Estava participando de uma feira, Primavera dos Livros, em São Paulo. Era na Oca, dentro do Ibirapuera. Chega a nosso estande uma menina de uns 11 ou 12 anos, acompanhada pelos pais. O casal já chegou com cara de cansaço ou preguiça de acompanhar a guria na feira. Por que essa menina num escolhe ir ao xópingue como toda menina normal? Quer ver livros?!? Como se não bastasse ver, quer comprar...
A menina veio direto para o Dicionário do Latim Essencial, pegou o livro e disse:
- É esse que eu quero, mãe!
- Mas, filha, acabamos de chegar. Vamos circular um pouco pela feira e depois você decide o que comprar.
- Mas eu vim aqui pra comprar o dicionário de latim, mãe. Eu quero é ele.
- Tá bom, mas vamos circular pela feira. Depois voltamos aqui.
Os três saem, a menina com cara contrariada, mas obediente.
Voltam umas duas horas depois. A menina se aproxima, pega o dicionário e o abraça, abre um sorriso radiante e diz:
- Até que enfim!
A mãe pergunta o preço e entrega o cartão para pagar. O pai fica mudo.
Pergunto à menina o motivo de querer tanto um dicionário de latim. Ela diz toda alegre:
- Estou lendo Harry Potter e há muitas expressões em latim, para as fórmulas mágicas. Fiquei super curiosa para aprender mais um pouco.
E saiu abraçada com o livro, com o carinho dos primeiros amores.
Fiquei pensando na menina do conto da Clarice Lispector e sua felicidade clandestina com os livros.